Já faço minhas poesias a bastante tempo e algumas delas merecem destaque, como:
TEMPORAL EM CASA
Leon Danon – 28/02/2004
O barulho invade a casa
Bate com força os pingos na vidraça
É o temporal e seus raios
É o relâmpago a clarear o escuro
Tem casas caindo pela cidade
Tem vidas saindo por debaixo da água.
A água leva de um tudo:
Panelas, mesa e fogão!
Sonhos, alegria e ilusão!
Misturados ao barro do chão
São famílias que levam na mão
Crianças perdidas dos brinquedos.
Meu coração procura calor
Que passa no anuncio da televisão
Na imagem turva da TV
A chuva parece prevê o destino
Destinos de todos os meninos de rua
Passar a noite em alerta.
As horas passam e os trovões gritam
A sentença dos desprovidos
O exército dos sem-abrigo
Dos sem motivos e nada de seu
Alguém ficou desaparecido
Alguém lutou e foi vencido.
CRIADOR DE CAUSOS
Lèon Danon - Não lembro exatamente a data.
O bicho homem só pensa em pasto
Conta ambicioso suas terras
Multiplica, soma e diminui.
Diminui sua ganância
Seu sujar de mãos...
É tiro
É morte
É sangue
Numa proporção geométrica.
A grilagem provoca o conflito.
É o chão medido a força
É o homem contra o homem
É a luta sem medo
É à bala!
O boi parece racional
Nos campos verdes do sossego...
É a paz
É a vida
É o entendimentoNuma proporção aritmética.
*MARIA E JOÃO
Leon Danon, 7/5/2003.
A noite que chega sem brilho
A lua que aparece sem estrelas
A rua que se tornou escura
O perigo é aparente.
As casas que se fecharam inseguras
O bairro onde tem uma favela
A cidade sitiada
Armas de fogo e marginais.
A polícia de muitos contatos
Grades e algemas em muitas poucas mãos
A população que votou e até hoje espera
Presidente operário.
O rap didático da violência
A voz saída das rádios comunitárias
A televisão do absurdo
A guerra do outro lado do planeta.
Cadê o amor?
Cadê os amantes?
Cadê os namoros de portão?
Cadê a Maria e o João?
Os rostos perderam os sorrisos
Os dentes ainda têm a função
As mãos agora estão contraídas
A violência virou produto de primeira qualidade.
Foi achada uma lágrima no chão
Foi achado o terço nas mãos
Foi achada Maria
Foi achado João
Mortos.
*BRUNO, DOUGLAS, FELIPE E LEONARDO
Leon Danon, 2005.
A bala voltou a matar
Alias, mata sempre!
Homens perdidos ou inocentes
Mulheres-mães
E crianças também.
Que deixou na saudade a bola
Que deixaram na idade seus sonhos
Que deixou na sociedade o pânico
Que deixou na cidade a família
Que deixou a felicidade, mortos.
Bruno que chamou Douglas
Douglas que chamou Leonardo
Leonardo que chamou Felipe.
A inocência que chamou a brincadeira
A brincadeira que chamou a alegria
A amizade que chamou os amigos.
A notícia que chamou a polícia
A polícia que chamou os pais
Os pais que chamou aquilo de violência
A violência que chamou os meninos de vítimas
As vítimas que chamaram a morte no local.
Cadê a brincadeira que estava ali?
Cadê a alegria que estava ali?
Cadê a amizade que estava ali?
Cadê a tranqüilidade gente?!!
O “Fantástico” noticiou
Nas ainda não é
O bastante.
*Essas poesias foram feitas com base em acontecimentos ocorridos
na mídia (televisão) e que me sensibilizou bastante.
LOBISOMEM
Lèon Danon – 10/03/2004
Hoje é dia de lua cheia
A lua do luar do sertão.
Meus olhos estão atentos
Meu faro farejou o amor
Que invadiu a floresta num corpo
De uma bela.
Suas mãos macias como nuvens
Ligeira a caminhar
Teu olhar cigano detrás das folhas
Tua boca vermelha numa cor de flor.
O encontro do instinto com a fragilidade
Do abraço e do desmaio
A bela e a fera de frente
Pálido rosto quase sem vida
Dentes amarelos em meio a saliva.
A cumplicidade dos perdidos
A amizade que deu origem ao amor
Seguiu a bela de volta a sua casa
Partiu o homem agora refeito.
Assim em todo final de tarde
Faça sol ou faça chuva
Existe o amor e a loucura
Que aflora em seus corações.
Ela branca como vela
Ele voraz sem nada de beleza
Assim é o casal de codinome estranheza.
SEM PAI NO DIAS DOS PAIS
Leon Danon 12/08/2000
Como não ter um pai
Neste segundo domingo de agosto
E não puder te abraçar
Dar presente ou almoçar
Chamando-te pai.
Seu lugar vazio na mesa
Seu copo e seu prato
Esperam como retrato
Inerte ao tempo
O tempo que a saudade marca.
Veio à lembrança com a tristeza
Veio o choro calado na solidão
A solidão dos rastros das lágrimas
A falta que machuca.
Às vezes te vejo em sonho
O mesmo olhar, gestos e palavras.
É quando está junto a mim
No instante feliz do encontro
O encontro das saudades.
Já faz anos e eu sem você
Bilhetes, coisas e fotos suas.
São tesouros, quadros da memória.
Também são estórias de nós dois.
OBS.: Esta poesia é especial pois fiz na Saudade de meu pai,
seu Isaac, um pai de muitos adjetivos... agradeço a Deus
por ter ele como pai.
Agora, uma homenagem ao
poeta Vinicius de Moraes
A CASA DO *POETINHA
Lèon Danon 13/03/2002
Era uma casa pequenina
Mas de boa imaginação
Não tem porta e nem se fecha portão
Dorme-se no jardim a contar estrelas
Rua do poetinha, número idade do Tom.
E dentro dela não tem cadeira
Senta-se na velha esteira
Tem um berço perto da lareira
Para aquecer querido filho.
Entre as flores do seu quintal
Roupas lavadas no quarador
Achei um lenço e seu cobertor
Bordado em cores vivas...
Não é vermelha a cor do amor?
Nossa comida é puro vento
E a cada sorriso uma sobremesa
Aquele quarto nosso momento
De nos amamos a cada instante...
Qual é a hora da felicidade?
O sol não precisa entrar
Nem a lua pedir para sair
Toda janela nosso grande olhar
Por isso gosto de morar aqui...
* Vinícius de Moraes
ENCONTRO DOS LÁBIOS
Lèon Danon – 07/01/02
Queria pagá-la pelos braços
Transformar num abraço minha vontade
A grande vontade em desejo
O desejo de tê-la neste momento
Momento que o amor falou mais alto
Num grito maior do mundo.
Sua boca saliva por um beijo
Aquele beijo esperado há anos
O encontro dos lábios emociona
Uma mulher e um homem.
Dentro da madrugada dos amantes
O cupido flechou dois corações...
Na cama o lençol nos aquece
Protege do frio das horas
Ainda por vim na saudade...
A janela mostra um amanhecer dourado
De ouro é nosso sentimento abstrato
Aquele que faz um casal ser cúmplice
E apaixonados pelo mais que perfeito amor.
AONDE DENUNCIAR
Há 10 anos